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Saúde animal: oportunidades de mercado para o Brasil na Ásia

Foto do escritor: Julino SoaresJulino Soares
Inovação na cadeia produtiva de proteína animal é necessária para aumentar estabilidade econômica do país

A saúde animal apresenta grandes oportunidades de mercado para o Brasil na Ásia, especialmente na China e na Índia, os principais mercados emergentes. Estima-se que o mercado global de produtos para saúde animal tem se aproximado de € 30 bilhões anualmente, com um aumento médio de 6% ao ano na última década.


Para aumentar a representatividade de mercado do Brasil, durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, entre os dias 12 e 15 de abril, foram assinados mais de 40 acordos entre o setor privado e público brasileiro e empresários chineses em diversas áreas, incluindo o agronegócio e a saúde animal. Esses acordos possibilitam a expansão do Brasil na Ásia e o aumento das suas exportações para o mercado chinês.

Vox e Gov - Saúde animal: oportunidades de mercado para o Brasil na Ásia
Vox e Gov - Saúde animal: oportunidades de mercado para o Brasil na Ásia

Empresas brasileiras e chinesas firmaram parcerias para a produção e distribuição de produtos veterinários e serviços de saúde animal em ambos os mercados. Algumas das parcerias incluem a Friboi, que estabeleceu uma parceria com a WHG para utilizar a estrutura da empresa para distribuição de seus produtos na China, aumentando a presença de produtos frescos brasileiros no mercado chinês. Além disso, a Suzano assinou três acordos com parceiras chinesas, incluindo um MoU com o grupo China Forestry Group para colaboração em materiais de base biológica e carbono, investimentos e pesquisa e desenvolvimento.


A China é responsável por 70,9% da produção de carne na região, além de ser o segundo maior exportador de pescado do mundo, indicando a relevância das visitas presidenciais como uma oportunidade de ampliação e diversificação do mercado nacional por meio da inovação.


A ampliação na participação do Brasil no mercado de proteínas à base de animais na China é uma oportunidade para o Brasil ampliar a participação em todo o mercado asiático e para o aumento de investimentos em pesquisa e desenvolvimento de produtos para a saúde animal, diversificando de forma mais segura o nosso potencial produtivo e econômico. A diversificação, por meio da inovação, na cadeia produtiva de proteína animal é necessária para aumentar a estabilidade econômica do Brasil diante de oscilações de mercado.


O consumo de carne vermelha tem aumentado na China, levando a uma forte dependência de importações para atender à demanda interna e preocupações com a segurança alimentar. A China tem aproximadamente 18% da população mundial, mas só 7% da área agricultável. Em 2000, a China era autossuficiente em alimentos, mas em 2020, o índice foi de 77%, com uma estimativa de queda para 65% em 2035. Depois da guerra tarifária EUA-China em 2019 e da pandemia, a alimentação ganhou ainda mais importância.


A Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático) publicou dados indicando que tem enfrentado desafios com doenças emergentes, além da criação tradicional de gado por pequenos produtores em sistema extensivo ou de quintal, que tem sido identificada como um fator de risco para futuras infecções. As diretrizes publicadas pela Asean podem servir como norte para as empresas brasileiras, por refletir os interesses e perigos relacionados à abordagem de ameaças biológicas adotada pela região e por incorporar as lições aprendidas com eventos reais, como a Infecção pelo Vírus Nipah; Gripe Aviária Altamente Patogênica; Vírus da Influenza Pandêmica; Influenza Aviária de Baixa Patogenicidade; Febre Suína Africana; Doença Equina Africana; Doença Nodular Cutânea.


Atualmente, os países com maior potencial para exportar ingredientes farmacêuticos para a Ásia são Alemanha, Estados Unidos e Suíça. Entretanto, segundo dados do Export Potential Map, o Brasil tem potencial para ampliar a sua exportação de medicamentos contendo antibióticos, hormônios ou esteroides, vacinas para medicina veterinária, sangue humano e animal, frações de sangue e produtos imunológicos, glândulas secas, heparina e outras substâncias humanas/animais.


Os fornecedores com maior potencial para exportar Vacinas para Medicina Veterinária para a Ásia na previsão para 2027 são Estados Unidos, França e Espanha. O Brasil figurou no 22° no ranking de países com potencial de exportação para o continente asiático na previsão para 2027. Os EUA mostram a maior diferença absoluta entre exportações potenciais e reais em termos de valor, deixando espaço para realizar exportações adicionais no valor de US$ 285 milhões. Os mercados com maior potencial para as exportações brasileiras de Vacinas para Medicina Veterinária na Ásia são China, Tailândia e Vietnã. Mais especificamente, o sudeste e o leste asiático foram apontados com o maior potencial de exportação do Brasil – respectivamente US$ 4,9 milhões e US$ 3,8 milhões.



A indústria farmacêutica de saúde animal lidera o desenvolvimento de produtos através de tecnologias como liberação de medicamentos, engenharia e biotecnologia. Algumas medicações veterinárias também são aplicáveis em medicina humana, como as avermectinas. Estima-se que globalmente, as vendas de antimicrobianos devem aumentar 11,5% em 2030, chegando a 104.079 toneladas, mas essas estimativas são menores do que as anteriores devido à diminuição do uso de antimicrobianos, principalmente na China, o maior consumidor mundial. O país é líder global em produção e consumo de carne suína e comumente usa antimicrobianos para atender à crescente demanda.


Entretanto, estudos indicam graves problemas relacionados à qualidade dos medicamentos para a saúde animal em todo o mundo, o que gera uma pressão pelo aumento das fiscalizações e exigências regulatórias, considerando que os medicamentos veterinários de qualidade inferior e falsificados têm um impacto negativo significativo na produção agrícola, segurança alimentar e saúde animal, além de aumentarem a resistência aos agentes antimicrobianos em animais e humanos.

Estima-se que cerca de 3% dos produtos veterinários aprovados sejam “ilegais”, incluindo produtos falsificados, abaixo do padrão, não autorizados, compostos ilegais, vacinas ilegais e falsificações de direitos de propriedade intelectual. Estudos apontam que os antibióticos e antiparasitários tiveram a maior frequência de falha, com 55,3% e 49,9%, respectivamente. Ainda, produtos combinados com esses medicamentos apresentaram as maiores taxas de falha, com 79,8% e 63,2%, respectivamente.


Quase metade das amostras testadas (46,6%) para o conteúdo de IFA (insumos farmacêuticos ativos) não atenderam aos padrões. A maior taxa de falha foi registrada na Ásia, com 72,1%, sendo as amostras coletadas no Vietnã, na China, no Paquistão e em Hong Kong. O problema recebe atenção limitada e os dados são dispersos, o que dificulta a compreensão de seu impacto epidemiológico e na saúde de animais e humanos em todo o mundo.


A prosperidade chinesa e as preocupações com a resistência antimicrobiana resultaram em maior disposição e demanda por alimentos orgânicos, influenciando o esforço para reduzir o uso de antimicrobianos nas indústrias de carne suína. Todavia, o desenvolvimento de medicamentos veterinários é dificultado pela diversidade de espécies e raças, diferenças no metabolismo, biologia e curso da doença, necessidades de segurança do animal e do usuário e sensibilidade ao custo, demandando altos investimentos na formação de cientistas, centros de pesquisa e em pesquisas para o uso racional desses produtos.


A resistência antimicrobiana é uma das dez principais ameaças globais à saúde pública, segundo a OMS, e pode ter impactos significativos na economia. Sem antimicrobianos eficazes, o sucesso da medicina moderna no tratamento de infecções estaria em maior risco. Um estudo recente identificou que o uso de antimicrobianos globalmente foi estimado em 99.502 toneladas em 2020, e a projeção indica um aumento de 8%, para 107.472 toneladas, em 2030. A Ásia é o maior usuário de antimicrobianos (67%), enquanto menos de 1% é usado na África.


Podemos concluir que esses acordos não só fortalecem as relações comerciais entre o Brasil e a China, mas também criam oportunidades de negócios e investimentos para empresas brasileiras no mercado asiático. Com o aumento da demanda por produtos de saúde animal de alta qualidade, o Brasil pode se tornar um importante fornecedor para a China, impulsionando ainda mais a economia brasileira e os nossos centros de pesquisa científica.


 

Julino Rodrigues

Pesquisador na área de Inovação Farmacêutica, Saúde Pública e Participação Social. Coordenador do Observatório de Direitos dos Pacientes da UnB. Consultor de Inteligência de Mercado e Inteligência Política na Vox e Gov


 

Fonte: Saúde animal: oportunidades de mercado para o Brasil na Ásia JOTA Jornalismo, coluna - O Estado da Saúde. 05/05/2023|05:00


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